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quinta-feira, 29 de março de 2012

BASQUETE ARARAQUARENSE: Da Cesta ao Cesto – De Lixo - Carta de um torcedor aos empresários

Da esquerda para direita: Ricardo Azevedo, Deivisson, e Daniel Filé



Em uma das longas viagens de motocicleta que fiz por esse mundo conheci um simpático senhor, num animado pub em Montevidéu – Uruguai. O vistoso nome Araraquara-SP bordado nas costas da minha jaqueta de couro chamou-lhe a atenção e o fez puxar assunto. Entre goles de cerveja e um horrível “portunhol” de ambos os lados, ele me perguntou sobre a nossa Ferroviária, time que tanto de bom tinha mostrado também por aqueles lados e, com tais feitos, muitas saudades deixara entre os nostálgicos amantes do futebol arte. Eu pouco soube explicar sobre o estranho – “óbvio” – declínio que tanto deteriorou a famosa esquadra grená a partir dos anos 80, mas saí do estabelecimento lotado com peito estufado e queixo em pé pelo reconhecimento do nome e belas menções à minha amada cidade, proporcionadas pelo nosso antigo time.
É fato inquestionável que o futebol foi, é e sempre será uma paixão unânime praticamente no planeta todo. Diante disso as lembranças esportistas invariavelmente se voltam a ele. Vide o status incomparável de uma copa do mundo e as cifras que essa competição movimenta em termos gerais. Por tal é até uma questão de lógica, principalmente no Brasil, que patrocínios astronômicos e investimentos faraônicos igualmente se voltem com força máxima a esse tão acompanhado e famoso esporte de massa. Os resultados e retornos são bem mais seguros.
Entretanto, amigos e amigas, os horizontes determinados por uma “bola” são bem mais amplos que se possa imaginar. Sem mencionar, é claro, tantas outras modalidades esportivas de igual respeito que usam tipos diferentes de objetos para darem seus espetáculos de puro talento. Porém, o assunto aqui em pauta gira em torno das esferas mágicas que afloram emoções explícitas ao serem disputadas. Aliás, o assunto aqui em pauta é uma esfera não muito diferente da irmã famosa que é chutada. Refiro-me a uma esfera que também pode despertar paixões e aflorar emoções ao ser “arremessada”. Refiro-me ao basquete, esporte tão difundido, amado e invejado no primeiro mundo – EUA, e tão pouco valorizado aqui entre nós.
Dias atrás, numa festiva tarde de domingo, descobri algo que certamente muitos outros conterrâneos também desconhece: o basquete profissional existe aqui em Araraquara! Existe em Araraquara e, pior, luta sempre contra nossa própria cidade, antes de qualquer outro adversário superior, para continuar existindo. Não, não sou um tolo alienado de costas aos nossos assuntos esportivos internos, mas, assim como tantos outros pobres reféns de mídia pesada, atento-me mais ao que sou bombardeado. E, da mesma forma como é mais fácil ter fé quando tudo dá certo e vai bem, conhecer, acompanhar e torcer para quem mais vence é fato. Porém, amigos e amigas, qualquer vitória requer, antes de tudo, preparo correto e muito apoio. Como dizem os antológicos roqueiros do mitológico AC/DC: “é uma longa estrada até o topo se você quiser”…
Meu amigo Eduardo Di Poi, diretor esportivo da ABA – Associação de Basquetebol de Araraquara -, foi quem me contou nessa festiva tarde as incríveis dificuldades para se tocar adiante por aqui um projeto/sonho. Ele detalhou-me, até em tom de triste comédia, os obstáculos quase intransponíveis existentes para quem tenta seguir quase sozinho a longa estrada rumo ao topo. A famosa luta bíblica entre o bravo Davi e o gigante Golias é ainda hoje um lindo ensinamento de crença no impossível, mas numa quadra atual, apesar de todos serem “gigantes”, a história é bem diferente em virtude das desiguais condições competitivas proporcionadas pelo dinheiro. A bravura e garra são sepultadas pelo total desgaste gerado por absurdos e até sofrimento.


Assim como eu também não sabia, imagino que poucos conheçam certas adversidades de bastidores enfrentadas pelos nossos atletas. Os meninos grandalhões que carregam o nome da cidade têm uma mísera folha de pagamento de pouco mais de trinta mil reais, enquanto muitos dos seus imponentes adversários salivam suas bocas com meio milhão ao final de cada mês. Nossos meninos grandalhões já passaram, logicamente em virtude da falta de “fama e importância”, pelo constrangimento até de revista por seguranças antes de entrarem num requintado clube para uma partida. Aliás, tratamento desrespeitoso que nós mesmos acabamos por lhes dar aqui, pela falta de caloroso incentivo provindos das arquibancadas – quase sempre vazias…
Enquanto certos festejados adversários percorrem as distancias entre os jogos em velozes aviões, nossos meninos gigantes se amontoam em apertados, lerdos e desconfortabilíssimos simples ônibus, para viagens, muitas vezes, de mais de vinte horas. Quem quiser saber como se sente alguém de mais de dois metros de altura num veículo desses, basta tentar morar por um dia num banheiro químico… Diante de fatos reais como esse é lógico que as condições físicas são muito afetadas e o rendimento cai à quase zero. Como praticar um esporte tão dependente das pernas quando as próprias pernas ficaram no caminho? E como vencer um bem preparado adversário sem as pernas? Fora as humilhantes “vaquinhas às pressas” entre comerciantes para pagamento de despesas extras de viagens e demais desanimadores acontecimentos. Infelizmente dessa forma vem se arrastando nosso basquete. Mesmo assim nossos jogadores enfrentam gente de peso de igual para igual e constantemente dão muito trabalho em quadras estranhas.
Nosso Prefeito, Marcelo Barbieri, faz o que pode com o pouco que tem em mãos para esses fins. Certamente também vê e acredita no potencial da equipe e no contexto geral do projeto. A prefeitura cede transporte – ônibus – para os devidos deslocamentos e até repassa os custos de arbitragens quando os jogos são aqui “em casa” – cerca de R$ 4.000,00 por partida. Sem esses imprescindíveis auxílios todo o sonho já teria naufragado há muito tempo. Obrigado em nome de todos, Marcelo. O difícil é que até o próprio destino parece estar testando a persistência de cada um para acreditar e continuar. Digo isso, pois nosso belo ginásio “Gigantão”, obra de cartão postal, há dois anos está interditado em virtude de um desabamento de marquise. Interditado sem previsão de liberação. Até isso aconteceu para “tentar desanimar”…

Desde mais esse triste contratempo nosso time vem jogando improvisadamente no Clube 22 de Agosto. O local é bom, mas a falta de uma casa própria e imponente como o Gigantão faz diferença. Os fiéis “Quatro Mosqueteiros” defensores do esporte, Eduardo Di Poi (já citado), Gilberto Paulilo, Geraldo Campesan e José Roberto Fernandes extravasam sua paixão real em qualquer local, mas arquibancadas maiores e mais eufóricas ajudariam bastante. Aliás, esses quatro “loucos basqueteiros alucinados” tanto se prestam que, apesar de todas as barras que enfrentam, ainda assim fizeram do nosso time juvenil um dos mais importantes da categoria paulista. Ainda não se sabe ao certo se existirá ou como será a próxima temporada de Araraquara na Liga Nacional de Basquete. Mas obviamente nada e ninguém jamais ofuscará o brilho dos sonhos desses caras que tanto lutam contra o fim.

Senhores empresários: todos sabemos que o Neymar é literalmente a “bola da vez” e o seu atual toque de Midas. Não pretendemos, de forma alguma, tentar desmerecer seus dons, tampouco duvidar dos retornos de investimento na sua imagem baseada num topete exótico. Entretanto, senhores empresários, tudo que é bem dividido, ampliado, diversificado e tentado pode gerar impressionantes e diferentes frutos futuros. Se alguém quer colher, primeiro deve plantar. Assim como se alguém quiser ser amado, deve primeiro amar. Por tal, com os devidos plantios – investimentos – o amor do povo por esse fantástico esporte surgirá naturalmente diante de empolgantes espetáculos em ginásios lotados.
É fato que o Neymar é a bola da vez, mas também pode haver um novo extraterrestre Michael Jordan em qualquer esquina da nossa região, pronto a ser descoberto. Basta que seja dada uma chance a chance. O destino sempre cumpre seu papel.

Deixo aqui um forte abraço a todos os nossos jogadores e dirigentes. Vocês são, independentemente de qualquer placar adverso, verdadeiros vencedores. Sim, pois somente verdadeiros vencedores não desistem dos seus sonhos diante de dificuldades. Não há homem mais feliz e realizado do que aquele que faz realmente o que ama e que vive das suas realizações. Todas as pessoas morrem, mas poucas vivem verdadeiramente…
Espero um dia, numa outra breve longa viagem de moto, vivenciar novas carinhosas aproximações de gerações futuras interessadas no esporte araraquarense. Mas não somente pelos nostálgicos gols da famosa “Ferrinha”, e sim também pelos incontáveis pontos que nossos meninos ainda farão mundo afora. Para que isso aconteça, basta que certos poderosos olhares recaiam sobre o nosso basquete com o merecido respeito e valor. E poderosos temos em abundância por aqui… Senhores empresários: precisamos de cestas, e não que os projetos idealistas sejam indiferentemente lançados ao cesto – de lixo… Vicente S. Junior – “Junião” – Jardim Martinez / Araraquara – SP.

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